Ex-gari, o baiano de Itabuna - BA Jailson Pereira Santos é
um exemplo de persistência. Mesmo com pouco estudo, ele decidiu que seria
servidor público. Sem dinheiro para pagar um curso preparatório, desenvolveu o
próprio método de estudo e parou de contar quando o prestou o 35º concurso.
Jailson retomou os estudos aos 27 anos e mesmo sem fazer cursinho
alcançou o o seu objetivo de se tornar servidor público.
Hoje estima que tenha feito mais de 40 provas até chegar ao
sonhado posto de trabalho: técnico em financiamento e execução de programas e
projetos educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Mas o caminho para chegar ao cargo foi longo. Jailson chegou
a Brasília aos 14 anos, após a vinda de uma de suas irmãs, que deu suporte para
a mudança do restante da família. Para ajudar no sustento da casa, o técnico em
financiamento parou os estudos na quinta série do ensino fundamental.
E assim ele permaneceu até os 27 anos, quando trabalhava de
gari. Incentivado por sua chefe, que tinha duas filhas estudantes de uma escola
técnica, ele decidiu que queria mudar sua situação. Ele, que gostava de
levantar cedo e trabalhar para receber seu salário,se sentiu motivado.
— Antes eu tinha trabalhado em algumas empresas e recebia
subsalários. Não tinha condições suficientes pra minha sobrevivência.
A partir de então, o baiano passou a aproveitar suas horas
vagas em bibliotecas e, apesar de ter passado bastante dificuldade no
aprendizado, conseguiu concluir os ensinos fundamental e médio pelo Encceja (O
Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
Logo em seguida, entrou em uma escola técnica, onde conheceu
sua esposa, que trabalhava em um cursinho preparatório
para concursos. Empolgado pelo estímulo da companheira, Jailson – que já tinha
feito alguns concursos – passou a mergulhar com mais intensidade neste mundo. E
aí ele não parou mais.
Dificuldade de aprendizado
O baiano de 34 anos conta que como não tinha base escolar,
tudo era mais difícil. Sem condições de pagar um curso preparatório, o servidor
público lembra que precisava desenvolver seu próprio método de estudo para
entender o conteúdo.
— Repetia tudo várias vezes, estudava com um MP3 player, repetindo várias vezes
a mesma coisa pra ver se aprendia.
No começo, o desempenho nos concursos era pouco
satisfatório. Mas desistir não passava pela cabeça do baiano de Itabuna. Com a
melhora nas colocações de outros concursos, ele se empolgou. Mas a necessidade,
a família e a vontade de ter um salário melhor, o faziam manter o foco.
— Chega um momento que o concurseiro não aguenta mais. Você
quer desistir, você quer chorar, você não aguenta mais e acha que não vai dar certo.
Eu tinha família e um filho de cinco anos na época. Eu queria dar uma condição
melhor a ele.
De tanto melhorar, Jailson foi chegando perto das notas de
corte de concursos. Até que a tão sonhada aprovação chegou. Não, sem antes,
passar por um pequeno susto.
PAo fazer um concurso da Procuradoria de São Paulo, com
representação em Brasília, Santos ficou em 19º colocado em seis vagas e foi
convidado a ir ao local. Acreditando que iria assumir o cargo, ele se demitiu
do emprego de motorista, apenas uma semana após o começo, contando que
assumiria o cargo. Mas aí veio a surpresa negativa.
— Eles falaram que era só pra tomar conhecimento de quem
tinha interesse e que se os seis primeiros desistissem, eles chamariam. Fiquei
desesperado. Voltei correndo para o meu antigo emprego e tinham acabado de
contratar uma pessoa pro meu lugar. Depois disso me revoltei falei que não ia
trabalhar pra ninguém. Acabei comprando uma churrasqueira e vendendo espetinho.
Outra negativa foi no concurso do Samu (Serviço de
Atendimento Médico de Urgência), em que não pode assumir por não ter CNH
(Carteira Nacional de Habilitação) na categoria D, no dia de tomar posse. Mesmo
frustrado, desistir não fazia parte dos planos do servidor.
Começo da mudança
Mesmo assim a venda de espetinhos não durou muito. Logo em
seguida, Jailson foi convocado para o concurso dos
Correios. Lá, ele trabalhou por três meses e em seguida foi assumir um cargo no
IFB (Instituto Federal de Brasília), onde trabalhou apenas um mês.
Depois, foi chamado ao FNDE para assumir o cargo que ocupa atualmente. Neste
ano, conseguiu a aprovação em um concurso da Polícia Federal, mas não pretende
assumir.
Casado, pai de dois meninos, de quatro e 13 anos, com renda
mensal em torno de R$ 4 mil, Santos acredita ser um exemplo aos filhos.
— Eles podem olhar pra mim e podem ver o crescimento de vida
através do estudo. Eu consegui, qualquer pessoa pode.
Jailson, que hoje faz faculdade de Gestão em Recursos
Humanos a distância, diz que mesmo após ter feito vários outros concursos deu
uma pausa nos concursos. Para ele, o importante neste momento é se manter
atualizado e continuar os estudos.
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