Aqui, no Distrito Federal, desembarcam centenas, milhares de pessoas
em busca de um sonho: a estabilidade financeira por meio do serviço
público. Uns de fácil acesso, outros bem concorridos para entrar. Ocorre
que em ambos os casos, as pessoas se preparam, gastam dinheiro e, em
quase na totalidade dos casos, se desprendem da vida normal,
enclausurado em casa para estudar horas a fio.
O desmedido esforço é coroado quando o estudante acha seu nome na
lista dos aprovados. Daí em diante, é seguir o cronograma para começar a
trabalhar. Mas é neste ponto onde muitos se deparam com a frustração.
Dentre os muitos casos que existem, Guardian DF se concentrará no Departamento Penitenciário (Depen), órgão sob as rédeas do Ministério da Justiça.
Justiça. Um antônimo do que tem acontecido com 256 pessoas de vários
estados do Brasil. Explicamos: há um concurso em andamento para o Depen.
Da aprovação nas provas, faltava agora a fase do curso de capacitação.
Depois disso, eles ocupariam seus cargos em penitenciárias federais
Brasil afora.
Porém, não foi isso o que aconteceu. A capacitação prevista para o
próximo dia 13 de março foi adiado sem mais, nem menos. Até o momento,
nenhuma outra data foi agendada. O problema é que o governo federal se
esqueceu de combinar isso com os futuros agentes.
Guardian DF ouviu relatos de várias pessoas que largaram tudo rumo à Brasília para começar o curso de capacitação. Todos os depoimentos, inclusive, formaram uma espécie de dossiê da Comissão do Concurso Depen 2015 para sensibilizar o Ministério da Justiça a destravar o certame. Junto aos diálogos, a reportagem também publica os respectivos comprovantes como compra de passagem e pedido de demissão para ilustrar melhor ao leitor.
Os casos são diversos, mas todos têm um ponto incomum: o sacrifício.
Situação, por exemplo, do rondoniense Rubens Nunes. Depois de demitido
do antigo emprego, ele começou a estudar para o concurso do Depen. E
passou.
Mas sem trabalho fixo, e nenhum tostão no bolso, Nunes pediu dinheiro
emprestado a amigos para comprar passagens para Brasília. Isso logo
depois que viu a data em que o curso de capacitação ocorreria. Até a
moto que tinha vendeu para ajudar no lado financeiro, que além da viagem
ao DF, precisava arcar com o enxoval do bebê que acabara de ter. Agora,
não sabe o que fazer.
Lucas Cassiano Gonçalves Cruz pediu demissão. No momento cumpre aviso
prévio. Mas se soubesse que o cronograma teria surpresas desagradáveis,
certamente teria se segurado na empresa. Aliás, até arriscou. “Com a
retificação do edital, tentei fazer um pedido de cancelamento da minha
demissão”, explica. Não deu certo, no entanto. “Meu superior me informou
via telefone que é norma da empresa não rever pedidos de demissão”,
lamenta.
Entre o cargo no serviço público e ser sócio em uma empresa na cidade
de Cascavel, no Paraná, Thiago Ramon Peres preferiu ser agente de
penitenciária federal. Para isso, se desfez da sociedade e foi morar em
Goiânia. Atualmente ele vive na residência de terceiros. “Tomei esta
medida para tornar mais fácil e barato minha ida ao curso (de
capacitação), diz. “Tenho gastos e não trabalho mais, necessitando de
apoio familiar”, detalha.
“Esperamos que os órgãos envolvidos neste certame possam, assim como
nós, cumprir com suas obrigações e não tratar este concurso de forma
banal e com o descaso que estamos atualmente presenciando”, critica o
paranaense.
Foram muitas as compras de passagens. Muitos prejuízos financeiros.
Que o diga Eliane Alves, Rony Souza, William Czluchas, Felipe Takizawa e
Ricardo Chaim, que até conseguiu cancelar o bilhete, sem, entretanto,
deixar de pagar uma multa.
Além da frustração, os gastos atingiram a todos, é claro. O carioca
Leonardo Monticello de Siqueira Braga simboliza isso. E ele coloca em
números: pagou R$ 429 com passagem e outros documentos necessários.
“Fora outros transtornos relacionados aos exames médicos, uma correria
para cumprir prazos, que nunca são respeitados”, relata. Teve gente que
pagou bem mais.
Acreditando que agora passaria um tempo sob o sol e chuva de
Brasília, Rodolpho Ramos fez questão de não renovar seu contrato de
aluguel numa casa no Rio Grande do Norte. Arrependeu-se. Sem a nova data
para o curso de formação para trabalhar no cargo para o qual tanto
estudou, se sente na rua da amargura. Com um agravante: é servidor
comissionado e pediu exoneração a partir do dia 8 de março.
“Não sei se conseguirei reverter (a exoneração) devido ao órgão estar
proibido de nomear por ter passado o limite prudencial, com isso
ficarei desempregado com dois filhos estudantes para sustentar”, diz,
preocupado.
De todos os depoimentos, o do alagoano Aurelio Neto sintetiza,
emocionalmente, o que uma mudança num concurso mal conduzido pode fazer.
E sobre ele, Guardian DF faz questão de colocar o relato na íntegra.
Sou um dos tantos aprovados que estão sofrendo financeiramente e emocionalmente com a falta de respeito e transparência com os aprovados deste certame. O que eu perco com isso? Trabalho em uma empresa há quase cinco anos, onde tenho todos os tipos de benefícios que uma empresa privada pode propiciar a um funcionário.
Desde o lançamento do cronograma por parte do Depen, me organizei, comprei a passagem aérea, e pedi demissão. Estou cumprindo o aviso prévio onde acabará no dia 3 de março. Até aí tudo bem, se não fosse o fato de eu perder quase 5 anos de contribuição ao INSS, FGTS retido e sem direito a seguro desemprego.
Ainda sim estaria tudo bem se não fosse a perda do plano de saúde, plano odontológico, ticket alimentação e vales transportes entre outras. O que venho relatar aqui é que a falta de organização deste certame está interferindo drasticamente na minha vida e de minha família onde eu sou o único que trabalho e os sustento.
Noites em claro, estresse, falta de estímulo e o tempo que não passa, quase chegando à beira do colapso mental, pode parecer até drama, mas não é. É desespero. Estudamos, cumprimos os requisitos estabelecidos pela banca, vencemos inúmeras etapas, choramos, criamos expectativas, ainda sim conseguimos vencer.
A reportagem entrou em contato com a Assessoria do Ministério da
Justiça. O órgão foi questionado sobre qual seria a nova data para o
curso de capacitação. Também sobre quantos agentes seriam nomeados. Além
disso, que resposta o Ministério daria a essas pessoas que largaram
tudo acreditando no governo. Até o momento, nenhum um sinal. Aliás, vale
a pena ressaltar que são os agentes desse órgão, os responsáveis pelos
criminosos mais perigosos do Brasil, incluindo os de colarinho branco.
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