O momento conturbado da economia afeta a iniciativa privada e
também os concursos públicos, de alguma forma.
No meio desse monte de informações, as pessoas estão um pouco
perdidas. Afinal, é melhor procurar emprego ou se preparar para
concurso?
Estamos vivendo um período de apreensão no mercado de trabalho.
A iniciativa privada – mesmo as grandes empresas - está sofrendo
retração. Quem tem emprego está com medo de perder. Muita gente
foi demitida e precisa se recolocar no mercado. Quem trabalha por
conta própria está assustado com a redução de demanda. E quem
estava sem trabalhar está com dificuldade de encontrar uma boa vaga.
Com isso, muita gente que nunca pensou em fazer concurso público
agora considera essa possibilidade.
O perigo é que a pressão de estar sem trabalho - ou em vias de
ficar - pode ser má conselheira. É importante conhecer melhor o
processo de preparação e aprovação antes de mergulhar de cabeça
no projeto.
Em primeiro lugar, é necessário saber que você não estará
empregado na administração pública no mês que vem. Nem no outro.
E não também no seguinte. Um tempo mínimo (e pouco provável)
entre a sua decisão e a posse é de 6 meses. Isso considerando um
concurso muito simples, se você tiver tempo e facilidade para
estudar e tendo a sorte de os aprovados serem logo convocados. Não é
muito comum essa conjugação de fatores.
Então não vale a pena investir na carreira pública? Depende do
seu projeto de vida e do que é importante para você. Sob outro
ponto de vista, depende do que está do outro lado da balança. Se
você não tiver clareza disso, vai iniciar os estudos, mas os
interromperá na primeira dificuldade que surgir. E terá jogado
tempo e dinheiro fora.
Vale lembrar que, quando a gente inicia uma faculdade, sabe que
vai estudar durante 5 anos, em média, e quando sair dificilmente
estará empregado, com bom salário e na sua área de formação.
Quem tem família que pode dar suporte pelo tempo necessário até
a pessoa entrar no mercado de trabalho e conquistar um lugar sólido,
excelente! Mas acredito que essa não é a realidade da maioria.
Aí entram os concursos públicos. É uma quantidade grande de
matérias e conteúdos a serem estudados, e a preparação exige um
tempo razoável – de 6 meses a 2 anos, em média, para concursos de
nível médio e de 1 a 3 anos para os de nível superior – mas,
depois de assumir o cargo vem a segurança de um salário garantido,
com direito a férias, décimo terceiro e outros benefícios. Os
salários podem variar de 2 a 5 mil, aproximadamente, para cargos de
nível médio, e de 10 a 15 mil para os de nível superior, podendo
chegar a 20 mil, mesmo sem formação específica. Em tempos de
instabilidade econômica, chega a ser quase um sonho.
Considerando o tempo que pode demorar até tudo se resolver, você
deve buscar uma estratégia de sobrevivência financeira. Pode ser o
suporte de pais, cônjuges, uma reserva proveniente de uma demissão
anterior ou uma poupança mesmo. Reduza os gastos ao mínimo, calcule
por quanto tempo aproximadamente estará “coberto” e mãos à
obra.
Se decidiu, não perca mais tempo. Cada dia é importante e todos
os momentos da sua vida até a aprovação deverão estar dedicados
ao projeto; mesmo o lazer terá como objetivo recarregar as baterias
para a semana de estudo. Portanto, nada de excessos. Estudar será o
seu trabalho, com horário certo e comprometimento, se você
realmente quer atingir a meta.
De modo geral, três motivos levam as pessoas a prestarem
concursos públicos, além da segurança e dos bons salários. O
primeiro deles é a possibilidade de exercer a sua profissão dentro
do serviço público. Praticamente todas as áreas estão
contempladas: saúde, educação, jurídica, engenharia, geologia,
biblioteconomia e muitas outras, com mais ou menos vagas e salários
variados. São os concursos que exigem formação específica.
O segundo é quando você sabe “o que quer ser quando crescer”,
ou seja, tem uma carreira escolhida, exerce ou pretende exercer, mas
precisa de dinheiro para investir na profissão, para fazer cursos,
especializações, montar consultório ou, simplesmente, ter suporte
financeiro para poder usufruir férias tranquilas, poder lidar com
eventuais períodos de baixa, doenças. Pode escolher concursos mais
amplos, mesmo de nível médio ou superior para qualquer área de
formação.
Neste caso, é preciso muito cuidado para não negligenciar a
carreira pública e para exercer com dedicação a sua função de
servidor. A outra atividade deverá ser exercida em horários
compatíveis e sem prejuízo da administração pública. Encaixam-se
bem nessa situação carreiras ligadas à arte, profissionais
liberais, etc.
O terceiro motivo é a estrita necessidade de ganhar dinheiro.
Talvez você não tenha clareza de qual profissão gostaria de
exercer (nem todo mundo consegue ter), mas precisa se sustentar e
deseja conquistar autonomia. E, se todo trabalho é digno, por que
não escolher o mais seguro e com boa remuneração? Nesse caso,
também os concursos de qualquer nível de escolaridade podem ser
interessantes, dependendo do patamar salarial que você deseja e da
urgência de ser aprovado.
Sempre é possível fazer concursos mais simples e depois seguir
estudando para outros melhores. É o que se faz muitas vezes na
iniciativa privada também, quando o profissional sobe aos poucos de
patamar. A diferença é que na administração pública cada cargo
tem a sua remuneração prevista em lei e não há negociação
individual de salários. Qualquer alteração deverá ser por meio da
lei que rege o cargo. Por isso, quem deseja melhorar a remuneração
estuda e faz concurso para cargos mais complexos e, em consequência,
com salário mais elevado.
Em todos os casos, sugiro observar se o seu perfil se adequa à
atividade que será exigida no exercício do cargo para o qual está
concorrendo. Há cargos com perfil mais burocrático, outros com
trabalho externo, em regime de plantão, outros com atendimento ao
público.
De todo modo, o serviço público apresenta uma faceta
interessante: é comum que a pessoa possa migrar aos poucos para uma
atividade mais compatível com o seu perfil. Porque uma boa chefia
sempre busca utilizar da melhor forma os talentos de seus
funcionários, dentro do leque de atividades a serem executadas por
aquele cargo.
Por outro lado, como em qualquer outro emprego, o funcionário
poderá ter de lidar com situações desagradáveis, frustrantes ou
injustas. Afinal, a administração pública é feita de pessoas.
Mas, acima de tudo, independentemente do motivo que conduziu a sua
escolha, a sua dedicação como servidor fará toda a diferença no
dia a dia de trabalho e nas oportunidades que poderão surgir. Você
vai carregar uma quantidade considerável de conhecimento adquirido
durante a preparação e terá passado por um significativo processo
de amadurecimento enquanto lidava com todos os desafios até
conquistar a vaga. Utilize isso a favor da sociedade a quem você
estará servindo. De alguma forma, isso também retornará para você.
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