Como qualquer outra disciplina, o português pode ser fácil
para uns e difícil para outros. Além disso, a língua é viva, se altera com o
passar dos anos, recebe influências do meio e, claro, conta com um amplo
conjunto de regras que inegavelmente podem confundir.
— É certo dizer que o tempo presente, o grau de escolaridade
e a classe social impactam em como produzo meu texto. Mas também é fato que o
domínio da língua é diretamente proporcional ao volume de leitura. A dica é ler
jornais, livros de bons autores e não ter vergonha de procurar o significado de
uma palavra que não conhece —, recomenda o professor Caco Penna, do CPV
Educacional.
Segundo Caco, as mudanças dos últimos anos no Enem
resultaram em provas mais focadas no caráter sociolinguístico do que propriamente
na gramática. Mesmo assim, essas são questões ainda relevantes na redação e
muito presentes nos vestibulares. Indo muito além dos testes, vale lembrar que
em toda a vida você vai lidar com as artimanhas do português. Nada mais queima
o filme do que falar errado em uma entrevista de emprego ou enviar um e-mail
profissional cheio de deslizes, por exemplo.
Para evitar essas derrapadas, listamos as 50 dúvidas
gramaticais que mais costumam gerar erros. A lista foi elaborada com ajuda dos
professores Simone Motta, coordenadora de Português do Grupo Etapa, Eduardo
Calbucci, supervisor de Português do Anglo, e do próprio Caco.
50 DÚVIDAS DO PORTUGUÊS ESCLARECIDAS
1. Por que/Porque
Para começar, uma confusão que acompanha gerações:
Usa-se “por que” para perguntas, mesmo que implícitas.
Exemplos: “Por que ela ainda não chegou? ” e “Ele não sabe por que está aqui”.
Usa-se “porque” para respostas. Se consegue substituir por
“pois”, essa é a forma correta: “Não foi trabalhar porque estava doente”.
2. Por quê/Porquê
No final de uma frase, seguido de pontuação (exclamação,
interrogação, reticências), o correto é “por quê”, como em: “Estou chateado.
Sabe por quê?”
Já o “porquê” tem exatamente o mesmo sentido de motivo ou
razão, por exemplo: “Não sabia o porquê de tanta pressa”.
3. De segunda a sexta (certo)/De segunda à sexta (errado)
Outro elemento de confusão frequente, a crase pode ser
explicada como a junção de duas letras em uma só: a preposição “a” e o artigo
feminino “a”. Então, se você tenta ler uma sentença com “a a” e não faz
sentido, provavelmente não há crase. Logo, o correto é “de segunda a sexta”.
4. A prazo (certo)/À prazo (errado)
Como no caso anterior, a leitura com “a” duplicado não faz
sentido. Além disso, não se aplica a crase antes de substantivos masculinos,
como é o caso de “prazo”.
5. A você (certo)/À você (errado)
Não há crase antes de pronomes pessoais (eu, você, ele, ela,
nós, vocês, eles, elas).
6. Das 9h às 18h (certo)/Das 9h as 18h (errado)
No caso de horas expressas, há crase quando a preposição
“de” aparece combinada com artigo (de + as), mesmo que implícito como em
“horário da prova: 8h às 11h”. Sendo assim, o correto é “das 9h às 18h”.
7. Mal/Mau
“Mal” é substantivo quando precedido de artigo, como em “o
mal do mundo”, e advérbio quando acompanha verbo ou adjetivo. Resumidamente, é
o contrário de “bem”.
“Mau” é adjetivo quando vem antes de substantivos, com os
quais concorda. É o oposto de “bom”.
8. Mas/Mais
“Mas” é conjunção adversativa e tem o mesmo valor de
“porém”, “contudo” ou “entretanto”.
“Mais” é advérbio de intensidade ou conjunção aditiva,
indicando adição ou acréscimo. É também o oposto de “menos”.
9. Haver/A ver
“A confusão entre as expressões se dá porque a pronúncia é a
mesma”, explica o professor Eduardo Calbucci. “Haver” é verbo e significa
“existir”. “Ter a ver” é “ter ligação”.
10. Traz/Trás/Atrás
Segundo a professora Simone Motta, é bem comum se deparar
com trocas de letra entre as palavras – erroneamente ‘tras’ e ‘atráz’ – por
conta da sonoridade semelhante entre elas. Apesar disso, é fácil diferenciar:
“traz” vem do verbo “trazer” (com Z, portanto); “trás” e “atrás” são advérbios
e indicam posição (“ficará para trás”, “atrás da porta”).
11. Haja/Aja
Novamente a semelhança sonora induzindo ao erro. Para esclarecer:
“haja” é conjugação do verbo “haver”, de existir. “Aja” vem do verbo “agir”:
“Aja com cuidado”.
12. Interveio (certo)/Interviu (errado)
Esse é um verbo que se conjuga como “vir”, de que é
derivado, sendo “interveio” a forma correta: “A polícia interveio na briga”.
13. Vêm/Têm
Os verbos “ter” e “vir” devem ser acentuados quando
estiverem na 3ª pessoa do plural: “Eles sempre vêm de táxi, porque eles não têm
carro”.
14. Em vez de/Ao invés de
Para indicar apenas uma coisa no lugar de outra, usa-se “em
vez de”. Para mostrar opostos, vá de “ao invés de”, como no exemplo: “Ao invés
de ser o primeiro, ele foi o último”.
15. Onde/Aonde
“Onde” é o lugar em que alguém ou alguma coisa está. “Aonde”
está relacionado a movimento. Por isso, quem vai, vai “a” algum lugar: “vai
aonde”.
16. Demais/De mais
Na maior parte dos casos, emprega-se o advérbio “demais”,
que significa excessivamente, muito. Já a locução “de mais” é comparável à
expressão “a mais”, como em “nem sal de mais, nem de menos”. “De mais” também é
associada a estranheza: “Não vejo nada de mais naquilo”.
17. Em princípio/A princípio
“Em princípio” assemelha-se a “em tese”. “A princípio” é
como “no início”..
18. Uso do hífen
O prefixo terminado por vogal é separado por hífen se a
palavra seguinte começar com a mesma vogal ou H. Caso contrário, sem hífen.
Exemplos: autoescola, micro-ondas, semianalfabeto, autoestima.
19. Tachar/Taxar
“Tachar” significa “denominar, chamar de, considerar”. Já
“taxar” é impor uma taxa ou imposto. Portanto, contextos diferentes.
20. Através de/Por meio de
Expressões com significados distintos. “Através de” expressa
a ideia de atravessar, indica um movimento físico. “Por meio de” é semelhante a
“por intermédio de” e se relaciona a “instrumento para a realização de algo”.
Portanto, ao começar um e-mail, por exemplo, o correto é “Venho por meio
deste”, e não “Venho através deste”.
21. Vírgula entre sentenças
Quando as duas frases possuírem sujeitos diferentes, usa-se
a vírgula antes da conjunção “e”.
Errado: A mãe demorou para chegar e o filho ficou
desesperado.
Certo: A mãe demorou para chegar, e o filho ficou
desesperado.
22. Eu/Mim
O pronome reto “eu” é utilizado apenas na posição de sujeito
do verbo. Nas demais situações, usa-se o pronome oblíquo “mim”.
Errado: Não há mais nada entre eu e você.
Certo: Não há mais nada entre mim e você.
23. Haver/Fazer
Ambos os verbos, quando indicam passagem de tempo, não
ganham plural: “Não conversávamos havia três anos” e ” Faz três anos que não
nos vemos”.
24. Haver/Existir
No sentido de “existir”, o verbo “haver” não vai para o
plural. O verbo “existir” pluraliza normalmente: “Na reunião, existiam cerca de
60 pessoas”.
Errado: Na reunião, haviam cerca de 60 pessoas.
Certo: Na reunião, havia cerca de 60 pessoas.
25. Assistir ao/Assistir o
Quando usado no sentido de “ver”, o verbo “assistir” rege a
preposição “a”: “Assistiu ao programa”. Já no sentido de “ajudar” ou “prestar
auxílio”, o verbo vem sem a preposição: “O técnico assistiu o cliente durante a
instalação do equipamento”.
26. Afim/A fim de
“Afim” pode ser adjetivo ou substantivo e, nos dois casos, é
associado a “parecido”, “similar” e “semelhante”. “A fim de” é locução
prepositiva e está ligada à ideia de intenção ou finalidade, como em “aceitei
ir à festa a fim de conhecê-lo melhor”.
27. Obrigado/Obrigada
Essa regra é muito simples. Homens dizem “obrigado”.
Mulheres dizem “obrigada”. Pronto!
28. Bem-vindo (certo)/Benvindo (errado)
O Novo Acordo Ortográfico não alterou a escrita da palavra
“bem-vindo”. Apesar de novas regras gramaticais em relação ao uso do hífen, ela
continua como antes.
29. Beneficente (certo)/Beneficiente (errado)
A forma correta é “beneficente”. “Beneficiente” não existe
na Língua Portuguesa.
30. Menos (certo)/Menas (errado)
Apesar de memes como “miga, seja menas”, a palavra “menas”
não existe na nossa gramática. Escolha sempre “menos” em suas redações e
e-mails formais.
31. Deixa eu escrever/Deixa-me escrever
Quando os verbos “deixar”, “fazer”, “ver” e “mandar” vêm
seguidos de infinitivo, usam-se os pronomes oblíquos no padrão culto da língua:
“Deixa-me escrever”. Aqui, porém, um adendo. “Esse tipo de construção com
pronomes retos (‘deixa eu estudar’, ‘deixa ele estudar’) está se tornando cada
vez mais comum, fundamentalmente na linguagem oral”, destaca o professor
Eduardo Calbucci, em uma ressalva de que o certo e o errado podem não ser
absolutos se levarmos em consideração a evolução da língua.
32. Seguem anexos os documentos (certo)/Seguem os documentos
em anexo (errado)
Expressões bem comuns em e-mails. Se funciona como adjetivo,
indicando que algo está ligado, a palavra “anexo” não exige o uso de “em” e
deve concordar em gênero e número com o substantivo a que se refere – no caso,
“documentos”. De outra forma, se o interlocutor quer dizer o modo pelo qual
algo está sendo enviado, é preferível dizer “no anexo” em vez de “em anexo”.
33. Proibida a entrada (certo)/Proibido a entrada (errada)
O sujeito da oração é “a entrada”, feminino e acompanhado de
artigo, por isso “proibido” concorda com “entrada”: “Proibida a entrada”.
34. Vamos nos ver amanhã? (certo)/ Vamos se ver amanhã?
(errado)
O sujeito do verbo “vamos” é de primeira pessoa do plural
(nós), por isso a forma correta é “vamos nos ver”.
35. Senão/Se não
A escolha depende bastante do que você quer expressar.
“Senão” é “caso contrário” ou “a não ser”. “Se não” mostra uma condição, como
em “se não sabe como fazer, não faça”.
36. Dia a dia/Frente a frente/Cara a cara
Nenhuma das expressões tem acento no “a”. O acento grave não
deve ser utilizado em termos com palavras repetidas.
37. Meio-dia e meia (certo)/ Meio-dia e meio (errado)
Quando a palavra “hora”, aqui implícita, é fracionada,
sempre utiliza-se “meia” – portanto, “meio-dia e meia”. “Meia” é numeral
fracionário e deve concordar em gênero com a unidade fracionada. Outra coisa:
“meio-dia” permanece com hífen, mesmo após o Novo Acordo Ortográfico.
38. Eminente/Iminente
Formas parecidíssimas, significados diferentes e grande
chance de confusão. Para memorizar: “eminente” está relacionado a qualidade,
excelência, como em “é um profissional eminente”; já “iminente” indica que “vai
acontecer em breve”.
39. Descrição/Discrição
Mais um caso de grafia e pronúncia semelhantes e
significados distintos. “Descrição” está relacionada ao ato de detalhar algo,
reunir características. Entre seus sinônimos, dependendo do contexto, estão
palavras como “exposição” e “apresentação”. Já “discrição” é a qualidade de
alguém ou algo discreto, que não chama muita atenção.
40. Sessão/Seção
A forma com S, “sessão”, é o intervalo de tempo em que
alguma coisa acontece, por isso sessão de cinema, sessão fotográfica, sessão da
tarde… Já “seção” é como divisão, uma parte de um todo, daí seção eleitoral,
seção feminina e seção do jornal, por exemplo.
41. Admitem-se vendedores (certo)/ Admite-se vendedores
(errado)
No exemplo, o verbo “admitir” é transitivo direto. Como tal,
não exige preposição entre ele e o objeto da frase e concorda em número com o
sujeito. Portanto, o correto é dizer “admitem-se vendedores”.
42. Precisa-se de vendedores (certo)/ Precisam-se de
vendedores (errado)
Já nesse exemplo, a maneira correta é “precisa-se de
vendedores”. Quem precisa, precisa “de” algo, daí a necessidade da preposição.
Como verbo transitivo indireto, portanto, “precisar” permanece no singular.
43. Supor/Transpor
Os verbos derivados do verbo “pôr” serão conjugados como o
verbo primitivo.
Errado: Se você supor que o seu plano dará certo, nós
poderemos executá-lo.
Certo: Se você supuser que o seu plano dará certo, nós
poderemos executá-lo.
44. Manter/Conter
Os verbos derivados do verbo “ter” serão conjugados como o
verbo primitivo.
Errado: Se você manter a rotina de treinos, alcançará
excelentes resultados.
Certo: Se você mantiver a rotina de treinos, alcançará
excelentes resultados.
45. Tinha chego/Tinha chegado
Existem alguns verbos, chamados de abundantes, que admitem
duas formas de particípio passado, entre eles “aceitar” (aceitado e aceito),
“imprimir” (imprimido e impresso) e “eleger” (elegido e eleito). “Por analogia,
obtêm-se formas como ‘chego’, ainda não acolhidas pela norma culta”, explica o
professor Eduardo Calbucci. Ou seja, vá de “tinha chegado”.
46. Na minha opinião (certo)/ Na minha opinião pessoal
(errado)
“Na minha opinião pessoal” é um pleonasmo, ou seja, a
repetição desnecessária de uma informação, uma redundância: sua opinião já é
pessoal. Por isso, diz-se apenas “na minha opinião”.
47. Anos atrás (certo)/ Há anos atrás (errado)
“Há anos atrás” também é um pleonasmo, pois o verbo “há”,
nesse sentido, já indica passagem do tempo. Diga apenas “há anos” ou “anos
atrás”.
48. De encontro a/Ao encontro de
Aqui temos praticamente opostos em termos de sentido. “De
encontro a” expressa conflito, como em “sua opinião foi de encontro ao que ele
acreditava”. Já “ao encontro de” expressa satisfação, “estar de acordo com”, ir
“em direção a”: “Uma lei que vem ao encontro dos menos favorecidos”.
49. Por hora/Por ora
As duas expressões existem, mas dependem do contexto. “Por
hora” está relacionada a um intervalo de 60 minutos: “Pedala 20 km por hora”.
“Por ora” significa, simplesmente, “por enquanto”.
50. Ratificar/Retificar
Verbos com sentidos bem diferentes: “ratificar” é confirmar;
“retificar” é corrigir.
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