A consultora Lia Salgado, especialista em assuntos sobre concursos públicos e colunista da G1, fala sobre os fatores que atrapalham a preparação e dá dicas para lidar com cansaço, pressão e reprovações.
Confira as principais causas do desânimo que atinge os interessados em um cargo público:
Ingenuidade quando se inicia o projeto
A
aprovação nem sempre vem com a primeira oportunidade. Ou melhor:
raramente vem. Concurso público é um projeto de médio ou longo prazo.
Quem não se prepara para isso é derrubado na primeira frustração.
Cansaço extremo
Correr
uma maratona é algo absolutamente extenuante. Assim é a preparação para
as provas. No início, parece simples e possível. A pessoa está
empolgada com o projeto e se sente cheia de energia. Com o passar dos
meses, a empolgação começa a perder força na mesma medida em que o corpo
e a mente reclamam do cansaço. Tudo em que se pensa é parar.
Curioso
é que, tanto na maratona quanto nos concursos, se a pessoa vencer essa
etapa, entra num ponto de conforto que a faz seguir em frente
indefinidamente. Quem corre já experimentou essa sensação: rompida a
barreira em que parece impossível dar mais um passo, tudo se estabiliza e
as pernas poderiam correr para sempre.
Mas
só sente isso quem já correu muito. Nos concursos, só quem está
estudando há muito tempo sente tanto cansaço. E nesse momento é
importante lembrar que já foi trilhada a maior parte do caminho. O que
significa que a chegada está próxima.
Pressão de familiares
Quem
começa a estudar para concurso costuma enfrentar duas situações com a
família e amigos: ou eles estão muito motivados e torcendo pelo
candidato, ou não acreditam muito, acham bobagem e pensam que, em breve,
a pessoa vai desistir e “voltar ao normal”.
Nos dois casos, as
pessoas não envolvidas com o projeto acreditam que tudo será resolvido
em pouco tempo, no máximo um ano (se tanto). Quando isso não acontece,
ficam muito aborrecidas e podem fazer acusações e cobranças. O candidato
corre o risco de ouvir de pessoas próximas que já deveria ter sido
aprovado (o que causa uma profunda sensação de incompetência) ou que
seria melhor desistir. Quando há investimento financeiro por parte
dessas pessoas, a situação pode ficar pior ainda.
Normalmente,
quem tem vínculo afetivo com o candidato se ressente da falta de
disponibilidade dele e dos momentos de convivência e anseia pela solução
disso, que só viria com a aprovação ou mesmo com a desistência. Por
isso, pressionam – e nem sempre de forma muito elegante.
Cabe ao
candidato aceitar que é muito difícil para quem está de fora entender a
dinâmica do projeto. Nós sabemos que a aprovação demora alguns meses ou
anos, e que isso não significa que ela não será alcançada.
Falta de dinheiro
Campeã
de justificativa – e, infelizmente, a mais difícil de superar – é a
questão financeira. Chega uma hora em que o dinheiro acaba e o candidato
começa a responsabilizar as despesas com os estudos pela situação.
Afinal, são investimentos com cursos, livros, transporte, inscrições em
concursos. Tudo isso é agravado no caso dos candidatos que não estão
trabalhando e optaram por dedicar-se exclusivamente à preparação.
Mas
é possível encontrar alternativas para continuar estudando. Há uma
grande oferta de cursos que podem ser pagos em parcelas, há materiais
gratuitos na internet e, ainda, a opção de dividir a compra de livros
com um grupo de amigos, que podem se revezar nas leituras.
Em
alguns casos, algum parente pode “investir” no candidato e custear os
estudos. Projetos de sucesso têm grandes chances de encontrar
“patrocinadores”.
De todo modo, é preciso querer de verdade.
Buscar em vez de lamentar. Ser criativo. Saber pedir e aceitar ajuda. E
lembrar que a falta de dinheiro já estava lá antes. O projeto concurso
público começa justamente para a conquista de um trabalho seguro e bem
remunerado.
Vergonha por reprovações
No
decorrer da nossa vida escolar, somos acostumados a encarar reprovações
como fracassos. O mesmo acontece quando vamos a uma entrevista de
emprego. No entanto, projetos grandiosos implicam uma longa caminhada e
algumas correções de rumo.
Assim foi com grandes inventores, que
não tinham o caminho preestabelecido. Explodiram coisas, obtiveram
resultados absolutamente diferentes do esperado (o que, muitas vezes,
resultou em excelentes descobertas) e precisaram repetir experimentos
dezenas, centenas de vezes até que funcionassem a contento.
O
mesmo se deu com pintores, escritores, atores e tantos outros talentos
que ficaram famosos e foram reconhecidos, mas que, inicialmente,
receberam críticas ou tiveram os trabalhos rejeitados.
Assim é
com os candidatos. Os tropeços na vida de quem está em busca de algo,
alguém que deixou o seu espaço de acomodação e se lançou no desconhecido
para conquistar uma vida melhor, são apenas ajustes necessários para o
sucesso da empreitada.
Insegurança
De
forma geral, o que observo é que o candidato só desiste quando duvida
que seja capaz. Aí todos os motivos anteriores ganham força e tornam-se a
justificativa perfeita. Infelizmente, é difícil lembrar nesse momento
que os anos passarão e a vida continuará do mesmo jeito.
Quem tem certeza (ou quase) de que a vitória está ali adiante segue em frente, haja o que houver. E transforma a própria vida.
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