18 de outubro de 2014

Mais jovem juiz federal do Brasil dá dicas sobre concursos.

“Não sou superdotado. Todos os resultados que obtive são fruto da determinação e de muito esforço”. Piauiense Pedro de Oliveira Santos foi aprovado em 1º lugar para juiz federal. Magistrado dá dicas de como conseguir uma aprovação em concurso público.
“Não sou superdotado. Todos os resultados que obtive são fruto da determinação e de muito esforço”. Piauiense Pedro de Oliveira Santos foi aprovado em 1º lugar para juiz federal. Magistrado dá dicas de como conseguir uma aprovação em concurso público.
“Não tenho constrangimento em declarar que para alcançar suadas aprovações, vivenciei tristes reprovações. Hoje não tenho dúvidas do quanto as derrotas me ajudaram a crescer”, ensina.
- Como recebeu a notícia de que foi o primeiro colocado no concurso juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª região?
A aprovação em primeiro lugar foi uma grande surpresa! Por outro lado, entendo se tratar de uma circunstância relativamente fortuita, pois a seleção é muito rigorosa de modo que os 54 aprovados, em um universo de 8.374 inscritos, encontram-se igualmente bem preparados.
Já está há quanto tempo em Brasília?
Nasci em 1987, em Teresina. Estudei no Instituto Dom Barreto durante toda a minha vida escolar. Em 2004, transferi-me para Brasília após ter sido aprovado para o curso de Direito na Universidade de Brasília. Graduei-me em 2009. Já exerci os cargos de técnico do Ministério Público Federal, técnico do Tribunal Regional Federal e Defensor Público da União.
O que representa para você ser o mais jovem juiz federal do país?
Tem sido cada vez mais comum a aprovação de pessoas jovens para a magistratura federal. Parte considerável dos meus futuros colegas encontra-se em uma faixa etária abaixo dos 30 anos. Trata-se de um desafio adicional alcançar tamanha responsabilidade ainda jovem. Chego à magistratura trazendo, humildemente, as minhas experiências de mundo (profissionais e pessoais), além de muita disposição para a realização de um trabalho sério e transformador, na certeza de que esta longa missão proporcionará, do começo ao fim, as experiências necessárias para um permanente aprendizado.
Acompanha o mundo jurídico do nosso Estado?
Embora não resida no Piauí desde 2004, retorno ao meu querido Estado várias vezes ao ano, para visitar a família. O vínculo sentimental permanece. Diariamente, acesso os portais locais e acompanho as notícias, inclusive da seara jurídica.
Vai exercer o cargo de juiz? Vai continuar tentando concursos?
Em termos de concursos públicos, não tenho qualquer outra ambição. Os estudos permanecem, em um ritmo mais leve, agora com o intuito de atualização e de preparação para as atividades do cargo. Um bom profissional, em qualquer área, nunca pode deixar de estudar, devendo sempre estar atento às inovações acadêmicas e aos novos problemas que exigem a nossa reflexão.
Qual era sua rotina de estudo?
A aprovação em qualquer concurso público consiste em projeto de longo prazo, desde o momento inicial da preparação até a realização das provas. Para o concurso da magistratura, assim como a maioria dos candidatos, tive que conciliar trabalho e estudo, o que não foi nada fácil. Mantinha uma rotina média de 7 horas diárias de estudos. Tentava gozar as minhas férias nas datas próximas às provas, período em que intensificava as leituras, alcançando jornadas de até 14 horas.
“É preciso ousar e abandonar a zona de conforto" Pedro Santos.
Minha metodologia para a prova objetiva sempre privilegiou a prática de exercícios e a análise de provas de certames anteriores, combinadas com estudos de doutrina e de jurisprudência. Somente a prática exaustiva consolida em nossa mente o conhecimento obtido nas leituras. Diariamente, destinava boa parte do meu tempo de estudos para responder questões. Posteriormente, conferia as respostas e analisava, item por item, os meus erros e acertos, elencando pontos de conteúdo que exigiam maior aprofundamento.
Para a fase subjetiva, com questões de análise e sentenças, realizei um estudo específico da banca examinadora, detectando seus posicionamentos e temas de maior predileção. Para a prova oral, aprofundei a revisão dos temas do edital e realizei várias simulações com outros colegas candidatos. Essa última etapa é bastante especial, pois o nosso estudo, tradicionalmente, baseia-se em leituras, e não em exposições orais.
Qual ensinamento você pode passar para os concurseiros que seja fruto da sua experiência pessoal?
Não me recordo de quantos concursos participei ao todo. E parte justamente dessa constatação a melhor contribuição que posso oferecer aos concurseiros: não há momento ideal para começar a se inscrever. Percebo que muitos colegas sempre falam: ‘Pretendo fazer concursos. Inicialmente, estudarei todos os editais por um prazo de tantos meses. Posteriormente, quando me sentir preparado, começarei a fazer as provas’.
Por óbvio, cada pessoa encontrará o seu método ideal. Entretanto, se questionado o motivo pelo qual logrei tantas aprovações em um curto espaço de tempo, eu não titubearia: desde cedo comecei a fazer muitas provas. Inscrever-se em concursos públicos e resolver as questões é um excelente termômetro para detectar quais os pontos a melhorar e as disciplinas que demandam mais tempo de estudo. Além disso, perde-se paulatinamente o ‘medo’ de fazer provas, o que deixará o candidato mais tranquilo no tão esperado dia do teste.
Qual a dica para aquelas pessoas que está há muito tempo estudando, mas ainda não consegui uma aprovação?
É preciso ousar e abandonar a zona de conforto. O candidato jamais se sentirá integralmente preparado. O conteúdo é vasto. Estuda-se direito constitucional, esquecem-se alguns detalhes do direito administrativo; volta-se para administrativo e esquecem-se outros temas essenciais de Penal, e assim por diante. Nunca me senti 100% em nenhuma prova.
Não tenho dúvidas de que isso seria humanamente impossível. Reitero: a meta do concurseiro não é gabaritar a prova, mas simplesmente alcançar um conhecimento geral das disciplinas e obter uma boa soma de pontos, que garanta a aprovação. Não devemos ter medo de ‘dar a cara a tapa’. É preciso perder o receio da reprovação, de ser zoado pelos colegas, de decepcionar os familiares ou a si.
Como lidar com as derrotas?
Não tenho constrangimento em declarar que, para alcançar suadas aprovações, vivenciei tristes reprovações. Hoje não tenho dúvidas do quanto as derrotas me ajudaram a crescer. Não apenas por terem tornado mais saborosa a vitória, mas porque me auxiliaram a obter diagnósticos precisos dos rumos que eu deveria dar aos meus estudos. Do ponto de vista emocional, cada reprovação demanda uma virada de página e a obtenção de forças para seguir adiante. Desistir, nunca! É preciso aprender a analisar fria e objetivamente cada derrota, detectando os erros, os conteúdos que demandam mais atenção e as necessárias mudanças de enfoque.
Quem lhe incentivou a fazer concurso público? E por que esta pessoa foi tão importante neste processo?
A família tem uma função primordial nesse processo de estudos. Meus pais e minha família foram inspiração e exemplo constante de determinação, de disciplina e de renúncia. Muito além disso, ofereceram o estímulo e a força para que eu tomasse decisões valiosas e seguisse adiante. Acreditaram em meu êxito, mesmo nos momentos mais difíceis. Doaram-se por inteiro e, por vezes, adiaram os seus próprios sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Sem eles, não teria obtido nenhuma vitória.
Como foi sua vida acadêmica no ensino fundamental, médio e superior? Foi uma criança ou adolescente superdotado?
Por um grande esforço dos meus pais, estudei no Instituto Dom Barreto, em Teresina, no Piauí. Trata-se de uma das melhores escolas do país, conforme atesta anualmente o ranking das instituições com maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos 15 anos em que lá estive, recebi uma formação interdisciplinar fantástica. Além das disciplinas comuns, tive aulas de xadrez, latim, empreendedorismo, filosofia e sociologia. Mais do que ensinamentos curriculares, o grande trunfo da instituição é o estímulo permanente à leitura e à formação de cidadãos pensantes e autônomos.
Posteriormente, cursei direito na Universidade de Brasília (UnB), cujo currículo também tem enfoques interdisciplinar e filosófico muito fortes. Esses aspectos foram fundamentais para a formação de minhas bases profissional e pessoal, inclusive sob um viés humanista.
Que recado deixa para os jovens advogados que querem tentar a carreira de juiz via concursos?
Tenho recebido inúmeros e-mails e mensagens no Facebook, com depoimentos de pessoas que não conheço, que se dizem estimuladas em continuar estudando para concursos públicos, uma vez que inspiradas com a minha aprovação. Não há nada mais gratificante do que responder cada uma dessas mensagens e ler histórias variadas de luta, de superação de obstáculos e de alcance de sonhos. Reproduzo aqui o mesmo sentimento que transmito a essas pessoas: não há vitória sem luta. A aprovação em qualquer concurso público demanda muita dedicação, disciplina, estudo e pés no chão.
Não há milagres ou segredos. A minha admiração pelo povo piauiense parte justamente da constatação de que não nos deixamos abater pelas dificuldades. Temos gana de vencer, sempre com muita humildade e determinação. Hoje olho para os meus colegas de infância e fico extremamente feliz ao ver todos obtendo considerável êxito profissional, em suas respectivas áreas. Orgulho-me de integrar mais uma geração piauiense que sonha, batalha e estuda.
Deixo também um recado aos pais piauienses: o maior presente de vida que recebi dos meus pais foi um esforço enorme para que eu tivesse uma educação (escolar e familiar) de qualidade. Vi inúmeros sonhos pessoais deles serem adiados em prol desse propósito e o maior agradecimento que pude realizar foi me apegar a essa oportunidade de crescimento. Não tenho dúvidas de que o acesso a um ensino de boa qualidade, durante os anos de educação básica, consistiu em elemento necessário para o alcance das minhas vitórias posteriores.
Fontes: G1 e 180graus

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